Essa atitude e o desabafo dela sobre estar em crise balzaquiana, que mais tarde me confidenciaria que outros dois amigos e o ex-namorado também estavam em crise (além de um amigo meu também estar vivendo esse momento), me fez lembrar de um episódio que aconteceu comigo.
Aos 28 anos entrei na crise dos 30.
Nessa época, eu trabalhava em Sampa mas morava no interior. Diariamente percorria uma distância equivalente a 80 km só de vinda. Na volta eram esses 80 km e mais um pouco. No início vinha de trem da CPTU. Depois de ônibus intermunicipal. Mais tarde de ônibus fretado. Fiz amizade com muitas pessoas do fretado. Cada um tinha a sua poltrona cativa. Do meu lado, sentava um jovem rapaz muito bonito. Trabalhava numa financeira na Paulista. Terno e gravata era o seu uniforme. Ficamos amigos rapidinho. Conversávamos de tudo. Ríamos de tudo. Até que um dia, o tom da conversa era outro. A seriedade no rosto do rapaz, o nervosismo e o suor das mãos que em vão ele tentava limpar, me fez perceber que ele queria dizer algo mas não sabia por onde começar. Então, aos poucos começou a falar. Estava apaixonado por mim. Ele perguntou se eu havia percebido. Disse que não (eu sou assim, não percebo nada mesmo quando o tipo de assunto é esse). Aí veio a pergunta fatídica. Ele me perguntou a idade. Eu já havia notado que ele era mais novo do que eu. Mas ele não reparou que eu era mais velha do que ele. Respondi, 28 anos. Não ia perguntar a idade dele. Mas nesse exato instante ele pôs as mãos na cabeça e começou a se lamentar:
"Não, vc não pode ter 28. Vc é mais nova. Fala a verdade pra mim."Depois desse dia, ele não mais pegou o mesmo ônibus fretado.
"Mas eu estou falando a verdade. Eu tenho 28 anos!"
"Não, não pode ser. Vc é bem mais velha do que eu!"
"Eu sou sim! Vc não percebeu?"
"Mas pra mim vc tem no máximo 21!"
"28!"
"Eu não acredito! Eu não quero acreditar!"
"Mas pq toda essa aflição?"
"É porque eu ia te pedir em namoro."
"Ah, era isso?"
"Como vc diz 'era isso'?"
"Pq eu nunca me imaginei namorando com vc. E agora a certeza ficou mais forte ainda."
Ainda bem porque o fato de eu ter 28 anos e ele 21 ser um gravíssimo problema, só me fez afundar mais ainda na minha crise dos 30.
Hoje, dou risada.
=P
2 comentários:
Nossa...
1) Crise dos 30: quando eu fizer 31 tudo vai melhorar.
2) Namoro: ganhei uma promoção em que meu acompanhante pode viajar de graça; mas ele não tem tempo; vou trocar de "acompanhante".
3) Autor temperamental: tem gente que se supera; é muita criancice dele.
No mínimo, o sujeito vai ser daqueles que troca uma de 40 por duas de 20. Bobão. Onde já se viu "não pode ser"?
Mudando de açunto, apezar da constânça da se-tua-são, talves a gente perseba essas coizas por causa da epóca... a única coiza que me xateia é não poder compartiliar momentos tão bons que paso com meus amigos. E isso falo de boca xeia, xeia: a mulher que tiver passiençia (e bota paçienssia nisso) de, seilá, se ajuntar a mim, vai ganhar um bônuz enorme (falo da minha famílha assangüìnea).
PS: Por favor, amanhã, só amanhã, veja mais um vídeo da série "Dia 12 de junho, dia mais bobo" naquele blog que, um dia, já foi mais alegre.
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